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A Dificuldade de Perdoar

  • Carlos Sergio Maia Mondaini
  • 12 de jun. de 2017
  • 4 min de leitura


De pouco adianta dizermos para as pessoas da necessidade de perdoar, apenas por tratar-se de um mandamento cristão. É preciso que, primeiramente, entendamos porque nos aborrecemos tanto, quando sofremos uma agressão ou ameaça dela. Assim, façamos, a seguir, algumas considerações a respeito desse problema:

- Normalmente, costumamos considerar o ato agressivo como algo dirigido à nossa pessoa e, assim, nos sentimos diretamente atingidos. Dominados por essa postura não percebemos que, embora nos pareça algo pessoal, na realidade a atitude agressiva do agente, que nos molesta, ocorreria contra qualquer um que estivesse em nosso lugar, pois o ato que nos desagrada apenas retrata a manifestação do padrão mental do agressor e ele agiria da mesma forma, independentemente de quem quer que fosse o alvo. Então, na maioria das vezes, nada há de pessoal na atitude do agente.

- Também não nos damos conta de que mais do que a pessoa nos agride nos incomoda o fato ofensivo, que consideramos como uma oferta à nossa pessoa. Então, começamos a identificar algo além do agente, pois a este podemos até perdoar com certa facilidade, influenciados pela doutrina cristã que aprendemos. No entanto, o fato fica registrado como uma ofensa à dignidade e à honra e, com isso, o nosso ego se sente ofendido, magoado e ressentido.

- Se pararmos para pensar, a luz de tudo o que aprendemos, do bom senso e da lógica, veremos que o nosso verdadeiro Eu (O Cristo Interno) não foi molestado, já que nem nós mesmos podemos fazê-lo, graças a Deus! Assim, concluiremos, com tranquilidade, que quem se sentiu ofendido, magoado e ressentido foi o nosso pequenino e virtual ego, que nem se quer tem vida real, mas virtual. Nesses casos, normalmente, a preocupação do nosso falso eu é muito mais com os possíveis ´arranhões´ produzidos à sua imagem pública do que com algum dano real que tenha sofrido.

- Assim, vemos que a necessidade de perdoar surge como consequência da ofensa que achamos ter sofrido, sentimento que é reforçado por seus companheiros inseparáveis; a mágoa e o ressentimento. Ora, agora podemos concluir, com segurança, que realmente devemos perdoar em face de uma postura cristã, isto é certo, mas também é certo que, para que o perdão seja verdadeiro e possível, tenhamos a capacidade de, além de desculpar o agente da agressão, também desconsiderar e esquecer o fato que nos desagradou. Dessa forma, fica evidente que o perdão não se tornará uma realidade apenas desculpando-se o agente, pois ainda restará a eliminação da presença da ofensa, que se alimenta do ressentimento e da mágoa.

- Por outro lado, é evidente que para que não nos ofendamos, primeiro sejamos capazes de não nos magoarmos, nem nos ressentimos, é porque não nos ofendemos; e se não nos ofendemos também não temos o que perdoar. Simples assim.

Como pode se ver, a dificuldade de perdoar a ofensa e ao ofensor reside no fato de que não é possível fazê-lo, pelo esquecimento, sem que eliminemos, primeiro, a existência e atuação da mágoa e do ressentimento, que são os componentes e vivificadores da ofensa, mantendo-a sempre presente em nossa memória.

Dessa forma, o esforço a ser despendido é no sentido de aprendermos a nos livrar das incomodas

e danosas presenças da mágoa e do ressentimento, pois ao conseguirmos tal proeza também teremos nos livrado da mazela da ofensa, e quem não se ofende não tem o que perdoar.

Outro aspecto a ser considerado é que não temos uma atuação isolada no palco da vida, pois atuamos sempre em interação com nossos semelhantes, e aí há alguns pontos a ponderar:

- Todo agente que nos desagrada por suas atitudes, seguramente, é alguém que, propositadamente, é colocado à nossa frente pela escola da vida para que, com seu modo de ser costumeiro (padrão mental), nos proporcione um ensinamento, mesmo que seja nos desagradando. Isto não quer dizer que, por ser um instrumento da providência, não esteja errando, mas apenas o seu modo de ser errado é que está sendo aproveitado para nos ensinar algo que precisamos aprender.

- Mas mesmo esse irmão, que erra conosco, também precisa ser objeto da nossa sensatez. Porque há de se levar em consideração as razões das suas ações e dos seus hábitos. Ai devem começar as atuações da tolerância e da misericórdia, pois embora ele esteja nos proporcionando um favor, ao cooperar com a transmissão de um ensinamento, também é certo que ele mesmo está precisando de mudança em sua estrutura de pensar e de agir, e que nós podemos ter participação nisso, nem que seja pela nossa compreensão, tolerância e ajuda em oração para que mude seu modo de ser.

- A nossa compreensão com o agente também tem de levar em consideração o fato de que não conhecemos a sua história, isto é, não sabemos das pressões emocionais que estava sofrendo, ou das tensões às quais estava submetido, no momento em que praticou a ofensa. Dessa forma, podemos citar, como exemplo, um desconforto físico, pois alguém sentindo dor ou medo provavelmente terá uma atitude agressiva, a qual talvez não teria se não estivesse atormentado.

- A escola da vida não nos dá nada para nos fazer rir ou chorar, pois em todos os fatos e pessoas, com os quais interagimos, há um valioso ensinamento subjacente. Assim sendo, se percebemos uma pessoa passando por algo que achamos não merecer, não tentemos justificar a tribulação como pagamento de uma dívida cármica, de um castigo visando um resgate, mas a transmissão de um ensinamento do qual a pessoa é carente, mesmo que não consigamos identificar qual seja ele. Assim como não critiquemos os agentes, pois também estão aprendendo, e a própria sintonia desfavorável que produzem como o seu padrão mental errado funcionará, hoje e amanhã, como o desconforto motivador da sua mudança.

- Tudo tem a sua hora e o seu lugar, e quem dispõe esses fatores é o magnifico reitor da escola da vida, o nosso Pai, que ama, provê e protege a cada aluno como se fosse o Seu único filho, a Sua única criação.


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