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Uma visão interior

  • Carlos Sergio Maia Mondaini
  • 7 de mai. de 2017
  • 5 min de leitura


Normalmente, nos dirigimos a Deus para satisfazer uma necessidade que entendemos ser para o nosso bem-estar, como o estancamento de uma dor ou o suprimento de algo que julgamos nos faltar, como: a atenção ou afeto de alguém, o alcance do sucesso em alguma atividade, garantia no provimento de recursos, reconhecimento social, etc. Oramos como se realmente estivéssemos carentes dessas coisas. Fazemos isso porque ignoramos que vivemos e nos movemos no Pai, pois fazemos parte Dele, e que sendo Ele o nosso magnífico provedor, em nossas vidas nada falta. Só nos sentimos carentes porque nos consideramos como algo distinto, separado do nosso Criador e, por isso, achamos que temos que pedir para sermos atendidos. Assim, estabelecemos uma dualidade entre a criatura e seu Criador e essa é a raiz da nossa sensação de desamparo e alienação na relação como Deus.

Bastaria o entendimento assimilado de que necessitamos é de esforço na busca da sintonia com o Pai e não de oração cheia de pedidos, para se conseguir Dele uma satisfação, isto é, para recebermos o que, em verdade, nos cabe pela herança concedida a todos os Seus filhos, que são as benesses que jorram sobre nós todo o tempo - tenhamos consciência das nossas carências ou não - bastando que sintonizemos com Ele. A dificuldade de recebimento se encontra, única e exclusivamente, na falta de sintonia com o nosso magnifico Provedor, pois com essa atitude fechamos a nossa porta do canal de provimento que Ele mantém abastecido, permanentemente.

O grande empecilho para que conheçamos e nos identifiquemos com todos os seres com os quais interagimos, desde o nosso Criador aos nossos semelhantes humanos e quaisquer outros dos nossos irmãos menores, ou mesmo o nosso próprio ser e seus desdobramentos, reside na dualidade com que observamos a tudo e a todos. Do egocentrismo que nos é próprio, vemos a tudo segundo a ótica do eu e tu ou do eu, tu e ele (s). Vemo-nos como separados da criação do Pai e até mesmo d´Ele próprio, por incrível que pareça.

Mesmo que tenhamos a capacidade de vislumbrarmos o entendimento disso, a assimilação desse ensinamento requer a sua vivência pelo exercício perseverante desse novo enfoque, tão diferente do que estamos acostumados; requer o treinamento constante para que se crie um novo reflexo baseado em uma nova postura, onde nos vejamos como parte integrante e inalienável de um mesmo tecido orgânico universal e pleno de vida, porque criado e mantido pelo nosso Pai e Criador, de dentro de quem, nós e tudo o mais, nunca saímos.

Os místicos que nos têm orientado sempre nos dizem que para chegarmos a esse entendimento temos de observar a todos os seres, e a nós mesmos, sem preconceitos, isto é, sem julgamentos de qualquer espécie, ou seja, se é grande ou pequeno, a que tipo pertence ou se enquadra, se é feio ou bonito, se é agradável ou não, o quão é semelhante ou diferente de nós, etc. Enfim, apenas observar e dar testemunho atento de sua presença sem qualquer consideração que o ligue aos conhecimentos arquivados em nossa memória. Mesmo porque essa atitude nos conduziria à condição em que se encontra esse arquivo, que é o acervo de uma memória de coisas passadas, e nós devemos fazer a observação no momento presente e, portanto, atermo-nos ao que vemos no aqui e no agora, pois é o momento que se encontra a realidade do observador e a do observado.

No entanto, embora se considere a veracidade e o valor dessa sábia recomendação, ela não é de fácil compreensão e prática, em face do condicionamento a que estamos submetidos por eras sem conta, por fazermos as considerações sobre o objeto das nossas observações analisando-o, para que possamos enquadrá-lo segundo os nossos padrões de memória onde reside o acervo de conhecimentos.

Estamos condicionados a enquadrar os seres e as coisas, com os quais interagimos, segundo os conhecimentos arquivados na memória, para que possamos identificá-los, reconhecê-los e entendê-los, providenciando ou não um novo arquivo. Isso nós sempre fazemos segundo a ótica dual do observador e do observado, e nessa postura se encontra a dificuldade de entendimento e prática de observar sem julgar e de apenas testemunhar.

Isto não quer dizer que a memória seja um empecilho em nossas vidas, pois ela é imprescindível para guiar os nosso procedimentos diários, como nos dirigirmos a um local conhecido, interagirmos socialmente com os seres, evitarmos perigos, guardarmos leis e costumes, retermos regras de matemática e de linguagem, etc. O que nos prejudica é usar a memória como repositório de preconceitos para julgar o que observamos, pois com isso apenas ratificaremos o que queremos ver, e não o que realmente vemos.

O que os místicos não costumam explicar é que enquanto mantivermos a atitude dual do observador e do observado nunca conseguiremos fazer a observação sem julgamentos. Enquanto nos colocarmos como um observador separado do objeto ou do ser observado, nós nunca conseguiremos fugir do automatismo da comparação, entre o eu e o tu, a que o condicionamento nos conduz para uma classificação segundo os padrões de conhecimento adquiridos no passado e arquivados na nossa memória.

Isso implica dificuldade para uma observação isenta que nos permita, se mas distorções que causam os preconceitos, aprender algo novo se ma obrigação de submeter esse novo aos padrões já conhecidos e arquivados. Mesmo porque surge uma resistência natural ao novo se ele não se submete, ou está de acordo, com os padrões reconhecidos por nós por nos terem sido ensinados como os corretos.

Isso é muito comum de acontecer conosco quando nos deparamos com algo nunca visto ou com uma interpretação diferente da que reconhecíamos como já consagrada sobre ensinamentos e suas interpretações. Reagimos, automaticamente, como se a visão que nos é apresentada fosse espúria, apenas porque não se enquadra no que julgamos como correto e consagrado. A consequência disso é a dificuldade que sentimos para que se aprenda algo novo, se a sua explicação contraria a interpretação que consideramos oficial, porque não está de acordo com os padrões de julgamento que se encontram nos nossos arquivos de conhecimentos adquiridos no passado.

O segredo, se é que assim podemos chamar a solução para esse problema, está na completa identificação do observador com o ser observado, um mergulho do agente no paciente, pois assim se consegue a integração de ambos, obtendo-se uma observação isenta e de dentro para fora, e não ao contrário, pois seja com quem ou o que for, elimina-se a dualidade do eu e do tu. É nessa identificação que consiste a sensação de integração do observador com o observado, o que permitirá o entendimento da totalidade à qual ambos pertencem, pois integram um só ser em sua realidade última, e assim deve ser a observação, isto é, substituindo a dualidade separatista entre o eu e o tu pela integração de ambos em um só ser.

Mas como a assimilação e a adoção dessa postura não são fáceis fica a sugestão de um exercício, a ser praticado no dia a dia de nossas vidas. Assim, desenvolvamos o hábito de enxergar os semelhantes, os animais, as plantas e todos os objetos com uma atitude de identificação, já que são todos integrantes da mesma criação do Pai. Ao vê-los, ou ter na mente as suas imagens, sintamo-nos integrados neles como um só ser e, assim fazendo, com crescente acuidade, aprenderemos a examiná-los por dentro, com a mente livre de condicionamentos e preconceitos, e a verdade começará a se fazer presente ao nosso entendimento, cada vez mais partilhado com a criação, por sermos todos nós células integrantes do mesmo tecido orgânico e universal, criado e vivificado por Deus, nosso único e amantíssimo Pai.

Será com a prática constante desse exercício que acabaremos por aprender, pouco a pouco, a fazer fluir por nós o amor divino e a canalizá-lo para todos os nossos irmãos, impregnando com esse amor todas as ideias, atitudes e atos que produzimos.

Provavelmente seja a mais eficiente maneira de se aprender a amar os nossos irmãos, tenhamos ou não qualquer tipo de relacionamento próximo com eles, seja esse relacionamento harmonioso ou perturbado pelas circunstâncias. Exercitando esse amor impessoal, estaremos nos treinando para retribuir cada vez melhor ao nosso Pai o amor infinito que Ele nos dedica.



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