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NAJA TRIPUDIANS

- o ´Suicida´, ´Auto-desapontado´ da Matéria Médica -

 

  • Veneno da Cobra-de-capelo - Naja (´Serpente´, do sânscrito); réptil ofídio da ordem squamata, família dos elapídios, ocorre em regiões cálidas da África, Ásia, Ceilão, Malásia;

  • Quando irritada, a Naja abre diversas vezes a boca, formando o característico capelo (pescoço ou colo inchado como se fosse um capuz), por isso é chamada também de cobra di capello, pelo alargamento da região logo abaixo da parte posterior da cabeça; trata-se de uma serpente extremamente venenosa.

 

Venenos de cobra curam doenças que não melhoram com o remédio de fundo.

 

  • Acorda freqüentemente com imaginações sexuais vívidas e dores perniciosas ardentes no pênis.

  • Afetado facilmente pelo vinho.

  • Afluxo de idéias.

  • Angústia.

  • Antagonismo e desilusão consigo mesmo.

  • Agonia de sofrimento mental em nome dos sofrimentos de outros, cria para si problemas e erros e se aborrece com eles por horas a fio.

  • Atos falhos, esquecimento.

  • Autodepreciação, falta de confiança em si mesmo.

  • Brincalhão e estúpido.

  • Caráter impensado e repentino.

  • Chorando facilmente por emoções superficiais, se sente desgraçado.

  • Contradição da vontade.

  • Delírios e alucinações freqüentes.

  • Depressão:

    • De espírito, geralmente acompanhada por dor de cabeça, melancolia peculiar; como se tivesse que realizar um dever e ao mesmo tempo tem um forte impulso de não realizá-lo.

    • Espiritual excessiva e uma sensação de inabilidade para exercer qualquer empreendimento e a convicção de que tudo de errado está acontecendo.

    • Mental com bruscos impulsos suicidas.

  • Desatenção.

  • Desejo:

    • De bebidas alcoólicas, principalmente vinho.

    • Súbito e imperioso de suicidar-se.

  • Desobediência à lei, muitos são os que não cumprem com seu dever, porém nenhum como Naja sente tão fortemente a sensação de ter plena consciência da transgressão, figura em ´ilusão de não haver cumprido o seu dever´, a contrapartida dessa sensação (ou castigo) é a ilusão de que foi descuidado, desatendido, abandonado ou negligenciado.

  • Desvario de pensamentos quando coloca a dualidade de emoções, ao mesmo tempo deseja e abandona, crê que após o derradeiro sono conseguira a aproximação do feliz com o incerto, demonstrando uma mente extremamente dual, bipolarizada.

  • Esquizofrênico.

  • Excitável com facilidade.

  • Fala com dificuldade.

  • Fantasias vívidas, sentindo-se debaixo de um controle superior.

  • Fastio da vida; indiferença, apatia, indecisão, irresolução.

  • Gravidez psicológica.

  • Humor alternante.

  • Ilusão:

    • Que foi ferido na cabeça; ilusão de que está morto de fome.

    • De ser ofendido pelos que o rodeiam.

  • Impulso suicida que domina seu ser, compartilha com Aurum o aspecto de ser um dos medicamentos mais suicidas da Matéria Médica (mas em Aurum seu suicídio é a seu grande equívoco desencadeado pela dificuldade que tem em lidar com seu veneno interior); Naja busca o suicídio com um machado, demonstrando uma tentativa errática de amputar seu lado que crê ser uma sombra, e assim procedendo cinde-se e castra a oportunidade de crescer e evoluir a partir de sua síntese interior e criar atributos adequados a seu veneno.

 

Pobre Naja que não percebe que seu veneno poderia ser seu grande remédio.

 

  • Inabilidade para falar.

  • Insanidade suicida.

  • Intolerância aos colarinhos.

  • Irritável, inquieto.

  • Melancolia:

    • fantasias vívidas, tristeza e pensamentos suicidas.

    • começa a formar imagens de possíveis erros e desgraças nas quais sua mente remói, se sente muito desgraçado.

  • Memória débil.

  • Mente.

  • Misantropo, com enorme tristeza.

  • Não tolera ser deixado só.

  • Pena; chora facilmente, sente-se infeliz.

  • Pensa constantemente em problemas imaginários; acerca de fogo, com temor de chuva.

  • Pensamentos errantes.

  • Percepção aumentada do que deve fazer, mas ao mesmo tempo uma inexplicável inclinação a não fazê-lo.

  • Semblante ansioso.

  • Sensação:

    • De cansaço nas vértebras dorsais, com ardor.

    • De debilidade no coração, remédio das valvulopatias.

    • De estar abandonado, negligenciado.

    • De estupor, cansado e esquecido.

    • De peso sobre os olhos.

    • De que tudo aquilo que realizam foi feito de maneira errada e mal pode ser consertado, isto divide a sua vontade, como se uma força maior a comandasse, pois tem uma tarefa a realizar com forte impulso de não fazê-la (dualidade, ambivalência).

    • De que os órgãos estão repuxados uns contra os outros, especialmente ovário e coração.

    • De vazio abdominal.

    • De que o cérebro está solto na cabeça, sensação de vazio do oco da cabeça.

    • De que os órgãos se chocam (principalmente ovários e coração); sensação de cansaço entre as escápulas, necessita deitar ou apoiar as costas para descansar.

    • De receber uma pancada por trás, na cabeça ou pescoço.

 

Sempre em dilema!

 

  • Sente:

    • A garganta apertada e com sensação de enforcamento.

    • Que existem duas vontades nele, fica muito atormentado pois é impotente para tomar uma, o mais notável da mentalidade de Naja  a divisão, o antagonismo de sua vontade, antagonismo consigo mesmo.

    • Que vai expulsar fezes grandes e, ao sair, são pequenas.

  • Sente-se:

    • Agredido por todos que o rodeiam.

    • Diminuído e desvalorizado, com medo do fracasso e desprezo a si mesmo.

    • Estúpido e confuso, esquecido.

    • Inútil, supérfluo, triste como se houvesse feito tudo mal, decepção de si mesmo, irresolução.

    • Mais descuidado e desvalorizado.

  • Sentimento de estar sendo tratado de forma imerecida, o que lhe causa sofrimento.

  • Sonhos vívidos com acontecimento do dia, com suicídio, assassinatos e fogo.

  • Sono impossível quando deitado sobre o lado esquerdo.

  • Transtornos por antecipação.

 

  • Acidez estomacal.

  • Acorda sufocando, abafado, respiração laboriosa, dificultosa, agravando as dores.

  • Adormecimento dos membros superiores.

  • Angina de peito, com dores severas précordial e estendidas ao ombro, pescoço e membro superior esquerdo, dormência no braço esquerdo, com  ansiedade e medo de morrer, pulso que pode passar de 120 a 32.

  • Anorexia.

  • Apetite débil.

  • Ardores, acidez.

  • Asma cardíaca, especialmente seguindo a coriza espasmódica.

  • Aspereza na traquéia e laringe como se estivessem escoriadas.

  • Beberrão.

  • Boca completamente aberta.

  • Bolhas pequenas e esbranquiçadas, com uma base inflamada e muito prurido.

  • Calor:

    • Anal com ardor.

    • Ardente intenso e sensação de pontada de agulha na amígdala, com vermelhidão e dor ao engolir.

    • E dor no ombro em cardíacos e, juntamente com os sintomas cardíacos, cefaléia frontal e occipital.

  • Cefaléia congestiva principalmente pela manhã, seguida por ansiedade precordial e melancolia.

  • Circulação sanguínea deficiente.

  • Cócegas nos pés.

  • Cólera com dispnéia e quase sem pulso.

  • Cólicas com dores cortantes, sobretudo umbilicais.

  • Coração lesionado por uma inflamação aguda.

  • Coriza fluida das narinas acompanhada principalmente de congestão cerebral e dor nas órbitas ocu-lares.

  • Corpo frio e colapsado, pés gelados.

 

Debilidade cardíaca.

 

  • Desconforto nos órgãos sexuais.

  • Diarreia profusa, brusca, muco sanguinolento, branco ou esverdeado, precedida de dores no ventre.

  • Dificuldade para engolir.

  • Dispneia, palpitação e sensação de peso na região precordial, tosse cardíaca e seca, irritante, que piora com o esforço.

  • Dores:

    • Ardentes detrás dos globos oculares.

    • Ardentes no lado direito do pênis.

    • Cortantes na nuca.

    • E opressão no peito, como se lhe houvessem introduzido um ferro quente.

    • Espinhais e palpitação cardíaca.

    • Na têmpora esquerda, região orbital esquerda.

    • Nas coxas.

    • Nos músculos peitorais esquerdos de manhã.

    • Puxantes na parte inferior do tendão de Aquiles.

    • Reumáticas nas costas.

    • Em cãibra no ovário esquerdo, acompanhada por intensa palpitação cardíaca, com sensação de que um filete nervoso une o coração ao ovário, essa dor piora no começo da menstruação.

    • Cardíacas do tipo angina de peito.

    • Ocasionais durante o dia, que se irradiam da região lombar para os hipocôndrios.

  • Ejaculações noturnas.

  • Endocardite aguda e crônica.

  • Ereção ausente ou escassa, com depressão, desejos sexuais violentos, acompanhados de impotência, demonstrando aqui seu caráter dual, ambivalente.

  • Eructação com gosto de cevada.

  • Esôfago com estreitamento, com deglutição difícil ou impossível.

  • Espirros freqüentes, alergia.

  • Expectoração mucosa esbranquiçada.

  • Extremidades frias e cianóticas com cabeça quente.

  • Face avermelhada e quente, ondas de calor, em seguida torna-se lívida, pálida, dando a impressão de estar muito doente.

  • Febre com sede, ondas de calor no rosto.

  • Flatulência com meteorismo e cólicas.

  • Frieiras dolorosas nos pés.

  • Gangrena.

  • Garganta com pressão e sensação de asco, que se apresenta seca e constrita pela manhã; após um resfriado, dor de garganta aguda com sensação de mil alfinetadas, tosse curta e forte que piora a noite e torna-se incessante e mais intensa quando aperta ou toca no pescoço.

  • Gengivas inchadas, vermelhas, inflamadas e quentes, sensíveis ao tato.

  • Gosto insípido, amargo, ácido ou metálico.

  • Hipertrofia simples do coração (para recuperar um coração prejudicado por uma inflamação aguda, ou para aliviar os sofrimentos de uma hipertrofia e lesões valvulares crônicas); ameaça de paralisia do coração; violenta dor em pontadas do coração.

  • Inchação do corpo.

  • Incontinência dos esfíncteres.

  • Indigestão, sensação de ter pedras  depois  de  comer.

  • Insuficiência cardíaca, extrema debilidade cardíaca, com sensação de depressão e mal estar pré-cordial, com pulso regular no ritmo, mas sem força, as vezes filiforme e apenas perceptível.

  • Irritação e dor picante na amígdala esquerda.

  • Lábios pegajosos pela manhã, secos com tendência a se partirem, lábios secos, escoriados, doloridos, gretas.

  • Lesões valvulares com sopros cardíacos.

  • Leucorreia vespertina.

  • Língua fria, espuma bucal, granitos no lábio superior e nariz; língua saburrosa e amarelada, muito seca.

  • Menstruação com fluxo branco e líquido à tarde.

  • Movimentos convulsivos da boca e extremidades.

  • Midríase (insensibilidade à luz).

  • Moléstias do ovário esquerdo.

  • Narinas irritadas, ulceradas.

  • Náusea sem vômito com sensação de fraqueza logo após o desjejum, que desaparece ao engolir frutas ácidas olhar fixo, olhos muito abertos e insensíveis à luz, midríase com arreflexia pupilar; dificuldade de ver, embora esteja com os olhos bem abertos.

  • Odontalgias e dor facial.

  • Otalgia, otorreia crônica, com secreção negra com odor de salmoura.

  • Ouve um ruído como de um moinho ao despertar, zumbido no ouvido esquerdo.

  • Pálpebras superiores inchadas e lívidas.

  • Palpitação crônica sufocante e nervosa, palpitações que aparecem ou se agravam ao falar (notadamente em público, que impede falar por que sufoca), ao despertar, ao caminhar, pelo movimento, por esforços ao subir escadas, por mover os braços, ao virar na cama, deitado do lado esquerdo, por qualquer excitação, ao beber vinho (palpitações audíveis).

  • Pele inchada, manchada e de cor púrpura, sensação de formigamento, prurido, com cócegas e reptação na pele.

  • Perda súbita da força muscular nos membros.

  • Prostração.

  • Pulso irregular.

  • Resfriados freqüentes.

  • Rosto pálido ou lívido, ou amarelo-esverdeado, expressão ansiosa.

  • Sede.

  • Sensibilidade do couro cabeludo, especialmente no vértice.

  • Semi-inconsciência ou coma.

  • Sonolência intensa, sono profundo com respiração estertorosa.

  • Sudorese copiosa nas mãos e pés, suores frios e pegajosos generalizados.

  • Tosse:

    • Irritante, seca.

    • Com sufocação e engasgos como se tivesse sido estrangulado e sensação de que um fio de cabelo ali permanece.

  • Transtornos cardíacos com poucos ou nenhum sintoma que possam guiar a um medicamento (principalmente em crianças).

  • Tremores musculares.

  • Urgência por defecar.

  • Urina vermelha com sedimento vermelho mesclado com muco, dificuldade e pressão na bexiga com mal estar.

  • Vertigem.

  • Visão confusa ao ler, deve esfregá-los constante-mente.

  • Vômitos com sensação de desmaio.

 

Naja e a Vontade Dividida

 

               Chama atenção o fato de que Naja não ocupe um lugar semelhante ao de Lachesis na Matéria Médica. A explicação talvez seja porque sua experimentação foi feita com baixas potências. Descrevem-se habitualmente transtornos e sintomas relacionados com o coração,além de respiratórios, hemorrágicos e sépticos. Nestes últimos o mais frequentemente prescrito dos ofídios é Crotalus horridus, em segundo lugar, Lachesis e em terceiro, Naja.

               O mais notável na mentalidade de Naja é a divisão, o antagonismo de sua vontada não consta em antagonismo consigo mesmo, mas deve ser agregado. ‘Eu sentia medo que tudo o que tinha para fazer o fazia mal, mas nada podia fazer para remediar’. ‘Se eu sentia que tinha algum dever para cumprir, tinha ao mesmo tempo um forte impulso de não fazê-lo e ficava muito quieto em conseqüência disso’, ‘tenho uma percepção aumentada do que devo fazer, mas ao mesmo tempo uma inexplicável inclinação a não fazê-lo, a qual devia obedecer irresitivelmente’ (Allen).

               Naja, como nenhum outro medicamento, mostra em sua intimidade a desobediência às leis, conscientemente. Muitos são os que não cumprem com seu dever, mas nenhum como Naja sente tão intensamente a sensação de ter plena consciência da transgressão. Por essa razão, Naja não consta em ‘desatento’, porque ai estão os transgressores que não se preocupam muito de sê-lo. Mas, corretamente, consta em ‘ilusão de que não cumpriu seu dever’. A contrapartida dessa sensação (ou castigo?) é a ilusão de que foi negligenciado, desatendido, abandonado.

               Nessa situação de abandono, sente-se tão diminuído e desvalorizado, que precisa de vários sin-tomas do repertório para mostrá-lo: falta de confiança em si mesmo; sente-se um fracasso; tem medo de fracassar; descrédito ou desprezo por si mesmo; triste e supérfluo (exclusivo); triste como se houvesse feito tudo de modo errado (exclusivo); decepção consigo mesmo e irresolução. Além disso, sente-se agredido pelos que o rodeiam e tem a ilusão de que foi machucado na cabeça.

               A partir desse sofrimento, toma três caminhos: cavila melancolicamente e pensa em desgraças imaginárias, próximo ao fogo (exclusivo), com medo da chuva (compartilhado com Elaps), chora fácilmente por emoções superficiais ou pequenas e se sente infeliz (Allen), ou se enche de fantasias vívidas, sentindo-se sob um controle sobre-humano, ou fica triste, com pensamentos suicidas, que cumpre partindo a cabeça em duas partes, com um machado, talvez para por ordem nessa cabeça que pareça uma, mas que por dentro está dividida entre o dever e o não querer.

               Apresenta a ilusão de estar morto de fome, sintoma que concorda com seu sofrimento mais profundo: quando se sente descuidado e desvalorizado. Nesse momento talvez já esteja cheio de sintomas cardíacos, mas ainda não pensa em suicídio.

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